
BOM DIA MEU AMIGO
by Roner Braga Padilha
setembro de 2008
Bom dia meu amigo.
Hoje, acordei, como sempre, às duas da manhã.
Mas, estava tudo diferente.
Chegou a primavera.
A garrinchinha cantava e fazia estripulia no telhado.
Às quatro horas da manhã.
O pardal solteiro, sozinho e solitário,
Chamava o bando ou a pardalesa (?), a pardoca (?), às cinco horas.
Até as andorinhas deram as caras.
Só os canários da terra continuavam preguiçosos.
Só dão as caras depois das sete horas.
Mas a primavera chegou.
E eu lembrei de você.
Lembrei do longo inverno, tão curto no tempo.
Ainda era verão, mas a alma estava gelada.
E apareceu você, igual a uma carreta com 18 pneus.
De morro abaixo. Desgovernada. Com dois tanques.
De gasolina? De aviação? De querosene? De ácido?
No final da descida, ela tombou. Capotou.
Guinchava como nos filmes? Guinchava?
Ferros no asfalto, no chão, pelas pedras. Se arrastando.
Arrastando o que encontrou pela frente.
Trombou, foi trombada, até parar.
E derramou seu conteúdo. Foi se esparramando.
Bastava uma fagulha, um lume, faisquinha.
Incendiou. Explodiu. Queimou. Até virar cinza.
Não sobrou nada. Até a fumaça acabou. Ninguém se importou.
Mas você estava lá assistindo. Viu tudo.
E saiu por ali buscando, no rescaldo...
Cadê a última brasa, um foguinho frio, um chiste vermelho?
Acabou...? Assim...? Não sobrou nada...?
Talvez.
Agora, com a primavera, pensei...
Sou uma tundra...
Nenhum comentário:
Postar um comentário